Crônica

A luneta dos sonhos

Por Thais Russomano

Médica 

 

Podia fazer frio ou calor. Só não ficava com minha luneta à frente de casa, na Doutor Cassiano 152, quando chovia ou densas nuvens teimavam em esconder estrelas, planetas e luas. De caderno e caneta em punho, passava horas observando o céu pelotense, anotando isso ou aquilo, vibrando com a passagem de uma estrela cadente e admirando as crateras lunares ou os anéis de Saturno. Essa rotina noturna se repetiu por anos e algumas noites deixaram lembranças profundas na minha memória. Numa delas, no início dos anos 70, as luzes da cidade se apagaram por completo. Não se enxergava nada, um breu total! Olhei para cima e pasmei. Pontos de luz preencheram subitamente o céu – para mim, mágica pura! Minha mãe abriu a porta carregando uma lanterna e me ouviu dizer eufórica: “Não tem espaço para colocar um dedo”. Essas observações do céu pelotense eram intercaladas por leituras sobre cosmologia, astronomia e física teórica. 

Gostava de aprender sobre o Big Bang, a expansão do Universo, a possível existência de mundos paralelos, a relatividade do tempo e os buracos negros – e leituras como estas cultivo até hoje. Foi, assim, com espanto que um dia li que o Universo passou de plano, como um lençol esticado, a curvo, fechado, um balão inflado. Denominada de Evidência Planck e prevista por Einstein, esta teoria gerou uma crise cosmológica, por impactar a compreensão de conhecimentos consolidados há séculos.

Não raro, fico imaginando minha luneta apontada para o céu e sou invadida por uma imensa saudade de meu olhar infantil observando os mistérios do Universo. “Ah, quantos sonhos naquelas noites pelotenses! Sonhos que só uma criança é capaz de sonhar”.  


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